A saga do Stamp 4 EUFAM

(Primeiramente, gostaríamos de deixar bem claro que cada caso é um caso, para alguns pedem mais ou menos documentos. E o nosso visto demorou, mas a média de espera é de seis meses, sendo que já ouvimos casos de pessoas que conseguiram em menos tempo).

Se tem uma coisa que foi difícil pra nós tirarmos foi o visto do Fabio.

Para entrar na Irlanda, se você não for cidadão europeu, precisa de visto (Stamp) - maiores informações sobre os tipos de visto visite este site aqui. No caso do Fabio, ele estava tentando um visto Stamp 4 EUFAM - concedido ao familiar de cidadão europeu (eu tenho dupla cidadania - brasileira/italiana) - que tem uma duração bem maior do que os vistos de estudante ou trabalho.

O INIS - Irish Naturalisation and Immigration Service é o órgão responsável pela concessão desses vistos, e, devido a alta demanda por vistos, muitos deles oriundos de uniões arranjadas com cidadãos europeus, está fechando o cerco, pedindo muitos documentos mesmo, muitos destes que só se conseguem depois de um tempo aqui.

A história começa assim: nós chegamos em Maio de 2015 na Irlanda. Tínhamos os passaportes, certidão de casamento original e traduzida para o inglês e uma declaração autenticada em cartório, dizendo há quanto tempo estávamos juntos e o que tínhamos adquirido em conjunto no Brasil (também traduzida para o inglês). Precisávamos de comprovantes de residência em ambos os nomes. Eu precisava achar um emprego em tempo integral, provando assim que conseguiria "sustentar" meu cônjuge enquanto aguardava pelo visto. Inicialmente o Fabio ganhou um visto de 3 meses tipo 3 (Stamp 3), ou seja, durante esses três meses ele seria como um turista, não poderia exercer atividade remunerada.

Nos primeiros meses moramos em um apartamento com um polonês. O rapaz já estava ali há tempos e não deixava transferir nenhuma conta da casa para nossos nomes. E eu, apesar de procurar incansavelmente, não consegui emprego.

Em agosto de 2015 nos mudamos para uma casa que vimos em um anúncio. Como conseguimos, sem referências do antigo landlord, não sei até hoje. Pagamos o depósito e o aluguel e ele nos aceitou. A casa tinha 4 quartos, então conseguimos mais pessoas para dividir. Contratamos internet e colocamos a conta no meu nome e mudamos a de energia para o nome do Fabio. Nessa época começaram a surgir faxinas para fazer, mas eu ainda não tinha emprego fixo. Com as primeiras faturas em mãos, enviamos ao INIS o formulário de solicitação EU1, nossos passaportes, carta assinada pelo landlord, extrato do nosso cartão com o dinheiro que trouxemos do Brasil. Preenchemos o formulário alegando que tínhamos condição de nos sustentarmos. [Obs: quando aplicamos, tivemos que mandar os documentos originais, mas de uns meses pra cá eles exigem apenas cópias coloridas - você encontra todas as explicações e os documentos necessários aqui.]

Em dois meses o pessoal do INIS nos respondeu, solicitando mais documentos. Disseram que eu teria que contratar um seguro-saúde. Pediram o número do meu PPS (inscrição na seguridade social) e também o número do registro da casa no PRTB (órgão que regulamenta os direitos e deveres de landlords e locatários). Na carta dizia que eles tinham até fevereiro de 2016 para tomar uma decisão final, e que, se no decorrer desse tempo, alguma mudança acontecesse (de endereço, situação financeira, etc.) era para entrarmos em contato.

Eu não tinha o PPS ainda, pois o Department of Social Protection, que dá esse documento, alega que, para conseguir, você tem que ter uma proposta de trabalho.

Nesse meio tempo eu tinha conseguido um trabalho de babá, 40 horas por semana, porém não registrado (informal, se é que me entendem), mesmo assim, pedi para a mãe das crianças assinar uma declaração de que eu trabalhava na casa dela e quanto recebia semanalmente. Em novembro de 2015 enviamos nova carta para o INIS, com essa declaração, a carta do seguro-saúde e o número do registro da residência no PRTB.

Depois dessa carta, nenhum contato foi feito por parte deles. Nós enviamos nova carta em janeiro de 2016, pois eu havia conseguido emprego em período integral em dezembro, portanto, mandamos todas as folhas de pagamento que eu tinha até então, mais um extrato bancário.

Ficamos, então, aguardando até fevereiro, o prazo final, contando que entrariam em contato conosco para dar uma resposta.

Mas fevereiro veio, e foi embora, e nada. Mandamos e-mail, e só nos respondiam que tínhamos que aguardar uma decisão, que ainda não havia sido tomada. Aproveitamos para informar que havíamos nos mudado e que nosso endereço agora era outro.

Até que, num desses e-mails, alguém respondeu dizendo que tínhamos sete dias úteis para enviar os comprovantes de residência nesse novo endereço (em ambos os nomes), mais uma carta assinada pelo meu empregador para comprovar que ainda estava nesse emprego, as últimas folhas de pagamento e o Tax Credit Certificate (certificado emitido pelo Revenue - a Receita Federal daqui - informando quais taxas eu havia pago em 2015 quando comecei a trabalhar).

As folhas de pagamento, a conta de internet em meu nome e o Tax Credit Certificate já tínhamos em mãos. Pedi no meu trabalho a carta e no dia seguinte me mandaram por e-mail. Faltava apenas a conta em nome do Fabio. Pedimos ao nosso novo landlord se podíamos mudar a energia para o nome dele, e assim fizemos. Como a fatura de energia demora pra vir (a cada dois meses), tiramos uma captura de tela (printscreen) da página da internet aonde consta os dados da fatura em nome do Fabio.

Então, pela terceira vez, mandamos os documentos, numa sexta-feira. Dessa vez tiramos também um printscreen da conversa por e-mail, apenas para mostrar que mandamos o que pediram da última vez, dentro do prazo solicitado.

Como sempre mandamos por carta registrada, aguardamos uns dias pra checar se realmente receberam. Na terça-feira olhamos e a carta chegou na segunda-feira.

Na quinta-feira eu estava indo trabalhar e tinha algo para nós na caixa de correio. Era um aviso de tentativa de entrega de correspondência, como era registrada, alguém precisava assinar, mas não tinha ninguém em casa no horário. No aviso pedia para o Fabio ir na Central dos correios para retirar a carta. Ele foi, e para nossa surpresa, era uma carta do INIS, dessa vez muito rápido! E na carta dizia que o visto dele foi concedido!

Ficamos muito felizes e aliviados, afinal, depois de quase um ano aqui, finalmente ele pode solicitar documentos em nome dele e procurar emprego formal! Na semana seguinte, fomos ao escritório de imigração aqui em Galway e nos disseram que teríamos que aguardar até que eles também recebessem uma carta do INIS, o que poderia levar de duas a três semanas... a oficial que nos atendeu já fez um "pré-cadastro": tirou foto e as digitais do Fabio. Ficamos ligando durante duas semanas para saber da carta, mas nunca atendiam o telefone. Na semana seguinte, numa segunda-feira, o Fabio acabou indo até o escritório e o oficial disse que a carta tinha chegado. Na terça-feira voltamos os dois com os passaportes, o oficial carimbou o passaporte do Fabio, deu várias explicações de como será daqui em diante, e disse para ele voltar dentro de uma semana para retirar o GNIB (o cartão de imigrante).

Então, o Fabio retornou na outra semana, e, agora sim, com o GNIB em mãos, válido por 5 anos!

Esse casal também relatou a saga deles, foi um pouco parecido com o nosso caso, vale a leitura: http://mundoa2.com/imigracao-na-irlanda-stamp-4-eufam/.

[Nota: o correto seria o INIS ter dado ao Fabio um visto temporário de 6 meses assim que aplicamos para o Stamp 4 EUFAM, tempo esse em que eles vão investigar, porém não recebemos! Isso foi uma falha do INIS. Ele ganhou o visto de 3 meses quando entramos no país, e depois disso, ficou sem visto nenhum. Até foi questionado pelo oficial de imigração do escritório de Galway, acho que nem eles tinham se deparado com essa situação.]

[Nota 2:  ficaram com nossa certidão de casamento original desde Novembro de 2015 e só fomos perceber bem depois, quando precisamos de novo dela. Sempre que mandar documentos originais, se atente ao fato de eles devolverem em seguida! Falha do INIS parte 2...]